Quebrando Correntes Invisíveis: Simone de Beauvoir e a Liberdade de Escrever seu Próprio Roteiro

Você já sentiu que está seguindo um roteiro que não escreveu? Que desempenha papéis — no trabalho, na família, na sociedade — que foram sutilmente impostos a você? A filósofa existencialista Simone de Beauvoir dedicou sua vida a investigar essas correntes invisíveis e a nos desafiar a conquistar nossa própria liberdade.

Sua premissa, compartilhada com outros existencialistas, é radical e libertadora: a existência precede a essência. Isso significa que não nascemos com uma natureza, um propósito ou uma identidade fixa. Não há um "manual de instruções" divino ou biológico para ser você. Primeiro, nós existimos, somos lançados ao mundo. E então, através de nossas escolhas, ações e recusas, nós criamos quem somos.

"Não se nasce, torna-se"

A frase mais famosa de Beauvoir, "Não se nasce mulher, torna-se mulher", contida em sua obra monumental "O Segundo Sexo", é a chave para entender todo o seu pensamento. Embora focada na condição feminina, o princípio é universal. Podemos aplicá-lo a tudo:

  • Não se nasce líder, torna-se líder.
  • Não se nasce artista, torna-se artista.
  • Não se nasce corajoso, torna-se corajoso.

Beauvoir argumenta que a sociedade nos apresenta uma série de "ficções" e expectativas baseadas em nossa "situação" — nosso gênero, classe social, cultura, corpo. Desde cedo, aprendemos o que é esperado de nós, como devemos agir, sentir e sonhar. Tornamo-nos atores em uma peça que não ajudamos a escrever.

A Ansiedade da Liberdade e a "Má-Fé"

Reconhecer isso é assustador. Se não há um roteiro, somos inteiramente responsáveis por criar o nosso. Essa responsabilidade gera uma profunda ansiedade. E, para fugir dela, muitas vezes caímos no que os existencialistas chamam de "má-fé": o ato de fingir para nós mesmos que não temos escolha.

É mais fácil dizer "Eu sou assim mesmo", "É a minha natureza" ou "Sempre foi feito dessa maneira". Agir em má-fé é abrir mão de nossa liberdade, de nossa capacidade de transcender nossa situação, e nos contentarmos em ser apenas um objeto moldado por forças externas.

A verdadeira jornada de autoconhecimento, segundo Beauvoir, não é encontrar uma "essência verdadeira" escondida dentro de nós. É um processo ativo de construção. É olhar para os roteiros que nos foram dados, questioná-los com honestidade brutal e, então, ter a coragem de começar a escrever o nosso próprio, linha por linha, escolha por escolha.

Quais papéis você tem desempenhado por hábito e não por escolha? Quebrar essas correntes invisíveis exige consciência e coragem, mas é o único caminho para uma vida autêntica e verdadeiramente livre.